De Leixões para Luanda

Mais uma história muito interessante

      Após o serviço militar, eu tinha que apresentar-me na companhia, então fui a Évora buscar a licença militar, uma espinha ainda atravessada na minha garganta, pois ao fim de andar uma quantidade de meses a ouvir as balas zumbirem ao ouvido ainda tive que pagar uma licença para poder trabalhar, e que ninguém pense que foi pouco, isto na época era muito dinheiro, 1.520 Escudos. Hoje, ao ouvir a juventude chorar por tudo e por nada, sou eu que fico com vontade de chorar de verdade e muito alto.

Obs. Para os camaradas do Bart 6323, quando regressamos de Angola, o RAL 3, já não existia, a nossa papelada foi transferida para o Regimento de Infantaria, tal como está aqui descrito na licença.

     Seguindo a história, quando cheguei a casa reparei que tinha um mês para apresentar-me na companhia, mas ao fim daquela trapalhada toda apeteceu-me ficar mais alguns dias em casa, então com muito cuidado emendei a data que estava assinalada, é certo que estava tão bem feito que não dava para se notar, mas, quem tem a consciência pesada fica sempre com um pé em guarda, no dia que me fui apresentar á companhia, com algum receio que dessem pelo facto, de supetão dizem-me, está um navio á tua espera em Leixões, tens de estar lá às oito horas da noite, eu olhei para o relógio e era cerca de meio-dia.

     Já mais tranquilo, disse-lhes, mas nem de táxi eu me responsabilizo, porque tenho de ir a casa, não tenho nada preparado, tenho que fazer a mala, nem de táxi vai dar!

    Pois até hoje ainda não cheguei a saber o porquê disto tudo, pois na altura já havia desemprego que chegasse e logicamente que os marítimos não estavam isentos.

    Mas foi o dia em que realmente me senti alguém importante, puseram então o carro de executivo com motorista á minha disposição e lá viemos até Caldas da Rainha, enquanto me preparavam a mala, eu e o motorista ia-mos almoçando alguma coisa também preparado á pressa, enquanto de vez em quando era interrompido para dar a minha dica do que havia de ser colocado na mala.

    Prontos, seguimos então para Leixões, já não me lembro a hora que saímos de Caldas, mas naquela época não havia ainda as auto-estradas que existem hoje, e já passava muito das oito horas da noite quando chegamos ao navio.

    Mas na verdade o PEREIRA D`EÇA, estava mesmo á minha espera, assim que subi a escada do portaló, esta foi içada, as amarras soltas e começou a afastar-se do cais.

    Outra coisa interessante que não disse de inicio, com a pressa à que fiquei sujeito nem perguntei para onde o navio ia, e o maior espanto, ainda estava para vir, já a navegarmos perguntei para onde íamos. A resposta (LUANDA) a minha sina em Luanda ainda não tinha terminado, (A próxima história para contar).

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