De Xangai para Nagoia-japão

Obs: Uma das maiores razões para eu ter aversão á greves.

Aqui éramos 42 tripulantes, que tinhas por obrigação de sermos como uma família, cada um na sua função zelar pelo bem-estar e segurança de todos os outros, normalmente quem fomenta as greves fica bem instalado na poltrona a ver se todos os seus cordeirinhos estão a cumprir a ordem.

Aqui tínhamos uma carga de carros para levar-mos directamente para Lisboa, o que era muito raro acontecer neste navio, os senhores oficiais maquinistas lembraram-se de fazer greve, no Japão isso era coisa de outro mundo e mandaram-nos ancorar bem ao largo para que o vírus não fosse por lá espalhado, os senhores não se lembraram que a greve estava a afectar os colegas que ficamos sem luz, sem água quente sem possibilidades de fazer comido e tudo mais, lembro-me que o dispenseiro lá arranjou umas sardinhas um carvão e pão duro que era congelado quando sobrava e fomos fazer uma fogueira no poço da manobra, mas até se tornou engraçado, vem lá um dos meninos sorrateiro vestido de branco feito doutorado e quando vai a tentar pegar em algo para comer, vai um revoltado espeta uma faca bem ao lado da mão e diz-lhe, se pegas aqui alguma coisa espeto-te mesmo, o gajo enrosca o rabo e foi embora, julgo que a greve até acabou mais sedo do que lhe era ordenado pelo filho da puta da poltrona porque eles próprios também ficaram sem comida e um ou dois dias aguenta-se. mas depois o estômago também dá sinais de revolta.

Mas os efeitos negativos da greve não se ficou por aqui, acabamos por perder o frete que vinha para Lisboa e tivemos que ir para outro porto apanhar outro frete com destino a outros locais bem distintos, e a viagem que poderia ser de uns três meses passou para o dobro, que se ferrem os grevistas, eu nunca fiz greve na minha vida.

Albino Lima

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